domingo, 23 de setembro de 2012

Captiosus - A Mais Humana




          Despertei depois de ouvir um barulho. Estava em uma sala abafada, com uma lâmpada que emitia uma luz forte e âmbar. Ouvia vozes em toda parte, vozes agitadas. Por isso, decidi me manter imóvel como que ainda desmaiado. Cerrei bem os olhos, de uma forma que desse para ver o que estava acontecendo. 
         Vi pessoas estranhas. Usavam capas pretas com capuzes, mas todos estavam sem o capuz colocado sobre a cabeça. Muitos tinham pouco cabelo, as vezes nenhum, até mesmo as mulheres. Eram extremamente pálidos e tinham um colar com um pingente de aranha pendendo no pescoço (o mesmo colar daquele ser que me sequestrou). Eles falavam rápido demais, em uma língua muito familiar, mas desconhecida. Fiquei muito receoso, afinal, quem eram aquelas pessoas? Eram realmente pessoas?
          Eles falavam rápido, mas cada um respeitava o espaço do outro. Pareciam uma organização secreta. De repente, todos se voltaram para mim, e ficaram me fitando. Estava muito calor e o suor da tensão foi redobrado, chegava a pingar. Uma deles, a mais "humana", chegou perto e começou a me observar. Abri os olhos lentamente, até deixá-los abertos por completo. Ela me olhou espantada, fez uma expressão de bronca. Então, fechei os olhos novamente. Senti que seu corpo se virou e ouvi ela dizer alto:
          - Adhuc dormit...
          Não entendi o que ela tinha dito, mas devia ter sido algo com o sentido de "dormir", por isso continuei  em posição de sono. Depois disso, eles continuaram conversando. Quando me senti seguro, cerrei os olhos  novamente e vi o ser de máscara, muito próximo. Aquela máscara era muito real, parecia ser viva. Senti medo. Após muito tempo, comecei a sentir fome e sede, minhas entranhas fizeram um ruído alto e estrondoso. Todos olharam pra mim, o mascarado então disse algo, e todos saíram por uma porta. Apenas a moça mais humana ficou ali na saleta quente, deve ter ficado para me vigiar.
         Quando estávamos apenas eu e ela, senti segurança para abrir os olhos novamente. Ela, rapidamente veio e tirou do bolso de sua manta um pedaço de pão. Comi vorazmente aquele pequeno pão que tinha seu sabor.
          - Quem são vocês? - disse-lhe. - E o que querem de mim?
         - Somos pessoas que precisamos de sua ajuda! - respondeu, depois de dar uma olhada em volta, com uma voz extremamente rápida.
          Olhei bem para o rosto dela. Tinha os olhos azuis como água. Olhos maravilhosos. Cabelo curto.
          - Mas que tipo de ajuda?
          - No tempo, saberá...
          - Mas, quem são vocês?
          - Já disse, pessoas que precisam de sua ajuda!
         Desisti de fazer essa pergunta de novo. Fiquei realmente decepcionado e acho que ela percebera, pois logo emendou:
          - Viemos de longe, muito longe. Nós viemos do...
         Antes que pudesse terminar frase, a sala foi invadida por vários daqueles seres. O mascarado, que notei que era o líder, olhou para mim e veio como um vento forte em minha direção.
          - Ipse evigilasse! Vetus vigilasse!


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