domingo, 14 de abril de 2013

A Vida de Narciso




                 Estava escuro, mas sentia o meu vidro se aquecer cada vez mais. Uma luz forte surgia entre as cortinas daquele quarto, percorrendo o chão, ao meu encontro. Subia, subia, e me deixou ligeiramente cego por uns instantes. Me sentia mal, uma dor terrível.
                 Era minhas primeiras visões, doía. Estavam um pouco embaçadas. Não conseguia me mexer. Estava petrificado. Eis que uma porta se abriu e no quarto entrou uma bela moça, de cabelos desgrenhados e bocejando. Como uma fada, deslizou até a janela e abriu-as, deixando o vento entrar e fazer com que suas vestes de seda branca flutuassem no ar, assim como seus cabelos. A mulher que vi pela primeira vez foi também a primeira por quem me apaixonei. Depois de respirar o ar da manhã, a moça veio ao meu encontro e começou a me olhar, a se exibir para mim. Ah, que visão dos deuses! Olhava pra mim, se insinuando, chegou bem perto, seu rosto quase colando em mim, e começou a se analisar. Achei aquilo estranho. Olhei bem para seus olhos, e a vi refletida. Logo notei do que se tratava, eu era nada além de um espelho.
Ela começou a fazer caretas, mas sua beleza ainda estava lá. Queria criar braços, poder tocá-la, dançar com ela, mas a única coisa que eu podia fazer é observá-la se afastar cada vez mais, sem desgrudar seus olhos de mim, até fazer seu reflexo desaparecer.
               Queria chorar, mas não conseguia. Que vida inútil, a vida de um espelho. Nada podia fazer, além de mostrar para os outros como são. Enxergar e ver e nada fazer, além de refletir. O dia ia passando, e só fazia aumentar a minha inutilidade. Estava ali, vendo e refletindo a parede cor de laranja. Não tinha cor melhor, não? Eis que entra um rapaz, bem apessoado, de terno. Parou na minha frente e começou a colocar a gravata listrada. Fiquei olhando para ele, com inveja. Ele podia se mover, se ver. De repente, gritou um nome: Maria!. De repente, a moça angelical de antes, entrou com vestes sóbrias, cabelos presos, mas ainda continuava bela. Então, seu nome era Maria. Trouxe um perfume para aquele rapaz, borrifou nele, fazendo um respingos caírem em mim. Depois, grudou em seu pescoço e lhe deu um beijo. A minha inveja tinha aumentado, senti ódio daquele homem. Queria poder me quebrar e fazer com que os estilhaços caíssem sobre ele. Antes de perceber, os dois já tinham partido.
               A solidão foi a minha única companheira durante a tarde. O cheiro do perfume dele estava impregnado em mim. Poderia ter sido, sei lá, um sapato, uma televisão, uma mala. Mas justamente um espelho fui nascer. Não existe vida pior do que a de um espelho. Amado por uns e odiado por outros. O mais prejudicado com o amor e com o ódio. Não existem vantagens. Obrigado a ficar no mesmo lugar, muitas vezes a vida toda. servindo como amigo confidente. Desgraça.
                    A vaidade era uma das coisas que me acompanhava, então decidi me autobatizar de Narciso. Embora mais me odeie do que me ame. Sou o fruto da vaidade.
                    Já a noite, Maria chegara em casa. Ouvia seus passos pela casa, ansiando sua visita. Quando ela entrou no quarto, escolheu uma roupa no armário do quarto e começou a se trocar,é claro, se insinuando para mim novamente. Dançava com movimentos leves, uma música tocava lá embaixo. Olhava para tudo sem perder nada. Até que, para me colocar no meu lugar, entrou aquele homem e começou a beijá-la. Aos poucos, os dois foram se despindo e acabaram na cama branca do quarto. Refletia aquilo chateado. Muitas vezes, um dos dois olhavam para mim, para ver a performance. Mal sabiam eles que para mim,na verdade, era pra me mostrar a minha inutilidade.O que adiantava viver sem poder amar? O que adiantava ter vida sem poder viver? Queria despedaçar na frente deles.
                   Os dias foram se passando e a minha agonia só aumentava. Ver Maria todo dia de manhã, sua pele branca como suas vestes, o vento. As danças, as palavras. Mas o perfume dele sempre me colocava no meu lugar ínfimo. O amor deles me fazia desejar a morte.
                    Um dia, Maria entrou no quarto chorando e se sentou na beira da cama branca. Soluçava. Queria criar pernas e ir ao seu encontro, abraçá-la. Mas a única coisa que podia fazer é refletir a sua dor e sofrer com ela. De repente, em um súbito momento de raiva, Maria pegou um vaso que estava no criado mudo e tacou, sem ver aonde. Para minha alegria, ou tristeza, o vaso veio em minha direção e me quebrou em mil pedaços. Sentia muita dor, agora via tudo no quarto. Todos meus mil olhos observavam atento. O vento lá fora. O céu. O sapato dela, meu preferido. Maria.
                   Da porta, entrou o rapaz. Na hora percebi que a causa da dor de Maria era ele. Com vontade, um dos meus pedaços entrou no pé dele, que começou a sangrar. Me sentia melhor. Mesmo assim, ele começou a conversar com ela. Pedia desculpas. Via tudo. Ela balançava a cabeça, negativamente. O moço tinha traído Maria. Meu ódio só aumentou. Maria desceu e desapareceu de vista. O moço ficou parado, pensativo. Estava com a consciência pesada. Olhava pra tudo aquilo, nunca me senti tão feliz, mas ao mesmo tempo estava triste. A morte estava chegando, os dois estavam separados. Mas jamais veria Maria novamente.
                   Depois de um tempo, o rapaz me recolheu, fiz mais algumas feridas nele. Fui jogado no lixo, recolhido por um homem sujo e levado para um lugar sinistro. Não sentia mais nada. Apenas refletia, das duas maneiras. Quando me dei conta, estava entrando em um buraco de chamas. A partir daquele momento, apenas a minha mente vivia. Estava enganado quanto a morte. Pensei que pararia de pensar, mas a única coisa que pode acontecer a um espelho é se quebrar e perder sua função: refletir. 
                    Ouvia estalos, barulhos mecânicos, mas não via nem sentia nada. Estava preso em meus pensamentos. Um dia, fui levado para um lugar silencioso, para piorar a situação. Ouvia apenas o abrir e fechar de uma porta. Depois de muitos dias assim, fui levado para outro lugar. Então,comecei a ouvir vozes exaltadas e barulhos de vidro batendo. Estava em um bar ou algo do tipo. "Quanto deu?", ouvi. Era a voz do rapaz, namorado de Maria. "Essa cachaça deu 11 reais", ouviu de resposta. Me senti triste, um espelho veneziano se tornara garrafa de uma cachaça barata. Em um súbito,comecei a sentir de novo. Senti a boca do rapaz, estava barbudo.
                        Que vida cruel. Minha vida se resumia em refletir a tristeza. O rapaz me levou pra casa dele. Bebeu quase todo aquele liquido gelado dentro de mim. Só estava esperando o momento de ser jogado no lixo de novo. Era o que ele fazia comigo, me fazer um lixo. Ele me deixou no alto de uma estante, em um lugar esquecido. Ouvia ele entrar e sair. Em um dia, ele entrou, mas estava acompanhado. Muitos passos. Uma voz bem familiar ecoou, era Maria. Ah, Maria, quanta saudade da sua voz. Pena que não podia vê-la nem senti-la, estava esquecido no alto da estante. O perfume do rapaz exalava pela sala, era nostálgico. Ouvi os dois conversando, se beijando. Estavam juntos novamente. Não estava mais com raiva, pelo contrário, estava feliz. A vida se incumbiu de nos juntar novamente. Poderia ser diferente, poderia estar quebrado em uma sarjeta, tomando banho de água suja. Mas ela fez com que ficasse com quem, no fundo, queria ficar.
                   Ouvia as vozes deles, os carinhos. Passaram-se alguns anos, e as vozes aumentaram. Uma criança, de voz suave. Estranhava ainda não terem me encontrado. Mas, o dia chegou. Uma mão suave me pegou, me levou para ser lavado. As mãos macias de Maria. Senti uns espinhos entrando em mim, mas o cheiro das rosas me fez esquecer a dor. As vozes felizes, as risadas. Tudo me fazia feliz. Toda semana, sentia as mãos de Maria, trocando as flores. Virara um vaso, enfeite da casa. Preferia mil vezes, sentir as mãos de Maria, do que vê-la de longe. E mais do que isso, feliz.
                    

domingo, 7 de abril de 2013

Especial 1 Ano de Fobofobia - Dicas Musicais: Imagine Dragons e The Temper Trap





Olá, meus medrosos! Quanta saudade!! Voltei e com o blog repaginado! Curtiram?
Está bem difícil de escrever para vocês, mas jamais me esqueci do fobofóbicos. Trabalhar, estudar, fazer tarefas escolares, enfim, isso que se resume a minha vida. Tempo para viver, nada. Nesses ano, que já tem quatro meses, só fiz um, UM MÍSERO post. Mas, para a minha alegria, o blog ainda continuou sendo bastante visitado, até mais do que antes.
Nesse mês, o Fobofobia completa um aninho de vida (como passou rápido o.o) e para começar as comemorações, vou dar não uma, mas duas dicas musicais para vocês: Imagine Dragons e The Temper Trap.
Afinal, nada melhor do que música nova e boa, não é?


  • Imagine Dragons
Esse pessoal indie vem de Las Vegas, berço de muita música boa, como The Killers (tá, já deu pra perceber que eu gosto da banda, não é?) e Panic! At The Disco. O nome vem de um anagrama que apenas os membros sabem o significado (ui, que misterioso).
A banda já bem conhecida nos EUA, e pouco aqui no Brasil. Já gravaram diversos EP's, e de um deles saiu o hit It's Time, que fez a banda entrar na parada da Billboard e assinar um contrato com uma grande gravadora. No ano passado, lançaram seu primeiro álbum de estúdio, o Night Visions, que surpreendeu tanto público quanto a crítica, e acabou ficando em segundo lugar na lista dos mais vendidos da mesma revista.
O clipe de It's Time foi indicado a melhor clipe de rock no MTV Video Music Awards, em 2012, mas perdeu para o maravilhoso Paradise, do Coldplay.
Ouça e dê sua avaliação: 

It's Time

Radioactive

Every Night



  • The Temper Trap

Quando cheguei no dia 29 no Festival Lollapalooza, me deparei com essa banda muito boa, que estava abrindo o Palco Cidade Jardim, o principal, que iria ser palco mais tarde de The Flaming Lips e The Killers.
Pensei: se essa banda está tocando nesse palco, deve haver algum motivo especial. E tinha. A música é muito boa! O vocal maravilhoso de Dougy Mandagi, as músicas de som alternativo e ritmo pausado me deixaram encantado.
Essa banda também é dos EUA e surgiu em 2005, conseguindo sucesso em 2009, como single Sweet Disposition, presente natrilha sonora do filme (500) Dias com Ela. Desde então, lançou dois discos.


 Sweet Disposition


Sweet Disposition (Lollapalooza 2013 São Paulo)





Lembrando pessoal, que esse foi só o primeiro especial de aniversário, hein!
Até a próxima!