sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Captiosus - O Ser da Névoa





          Meu nome é Flávio. Tenho atualmente 32 anos e vivo na cidade de São Paulo. Poderia ser um homem comum, um simples paulistano, mas infelizmente não sou. Há alguns anos atrás, aconteceu-me um fato, um não, vários fatos, que me perturbam até os dias de hoje. Tentei guardá-los para mim, mas depois de refletir muito, decidi que seria melhor contá-los, para quem sabe tentar... Enfim.
          Esses relatos aconteceram á exatamente três anos, dois meses e vinte e um dias. No mesmo mês em que uma atriz famosa se suicidou, em que um presidente de um país da Ásia foi eleito, em que houve grandes catástrofes naturais no Caribe. Para mim, seria apenas mais um mês, um mês normal de trabalho.
          Era uma quinta-feira. Tudo parecia estar bem, mas só parecia. Andar sozinho nas ruas úmidas, em plena meia-noite, não era uma boa ideia. Justamente, não foi. As orelhas congelavam, a coriza era incessante, a fumaça que saia da boca era densa. As luzes postes de iluminação rasgavam o nevoeiro, causavam mantos luminosos em algumas partes e, infelizmente, não alcançava outras. Os cabelos arrepiados pela umidade, as bochechas duras. Era como eu me sentia naquela noite.
         Andava tão rápido que parecia flutuar, se não o fiz. Os pés dolorosos naqueles sapatos que encolheram com o frio. As mãos frenéticas dentro dos bolsos da blusa, remexendo os papéis de balas que guardava para jogar fora depois. A boca sussurrando as músicas que passavam nos fones de ouvido que causavam zumbidos quando tinha alguma rajada de vento.
         Não havia ninguém nas ruas, nem nas calçadas. Carro nenhum passava. As luzes dos prédios e das casas se apagavam uma a uma. Naquele momento, senti o que era realmente estar sozinho.
De repente, um vento tão violento veio de encontro a mim, me fazendo fechar os olhos e derrubando meus fones, pelas pálpebras, vi um raio de luz forte, como um relâmpago. O som que ele causava era amedrontador. A névoa ficara como louca, mas para minha irritação, não se dissipava. Até que, o vento parou. Mas, quando ele se foi, uma enorme brisa quente tomou conta do meu redor. O chão ainda estava brilhoso e a neblina ainda estava lá, mas aquele calor me fez abrir um pouco do zíper da blusa e fez brotar alguns pontos de suor em minha cabeça.
          Achava aquilo muito estranho, afinal, era uma fria noite de inverno, na entrada da madrugada. Era impossível uma calor daquele no momento, ainda mais com a presença de névoa e a fumaça que ainda saia da minha boca, tão quente quanto o ar que me envolvia.
          Até que senti algo me puxar a perna, o que me fez cair na rua molhada. O calor estava infernal. Ainda no chão, tirei a blusa, antes que torrasse. Com ela, fiz um movimento para que me abanasse, dissipando um pouco da névoa que estava ao meu redor, e revelando aquele terrível rosto branco, com vestes negras e com um colar em que o pingente era uma enorme aranha dourada.
          Esse ser que aparecera como um fantasma na minha frente, me puxou para cima, em um movimento absurdamente rápido, que me causou uma pequena tontura. Olhava para ele espantado, sua pele era tão plástica e moldurada, seu sorriso era imóvel. Fitei bem seus olhos, cor de grafite. Mas, eles pareciam estar muito profundos, como se estivessem dentro de um buraco aberto. Então, percebi que ele usava uma máscara. Depois disso, apaguei.

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