quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Captiosus: A Largada





          Acordei ainda atônito. Rarana me chacoalhava de um lado para o outro frenética chamando pelo meu nome. Quando voltei a consciência, vi a sujeira que havia feito na saleta abafada, agora tomada de um odor terrível. Tapei o nariz e a boca, tentando segurar o refluxo que teimava em subir pela minha garganta. Depois de um tempo, tudo estava em seu devido lugar, mas o cheiro perturbava tanto eu quanto a "mais humana".
          Passou-se um certo tempo, até que Rebellem, o mascarado, chegasse com os outros Captiosus. Ao entrar, foi esbofetado pelo bafo quente e fétido que tomava conta do quartinho. Quase caiu, mas continuou firme. Ele olhou em volta, viu a bagunça que eu havia feito. Eu estava sentado em uma cadeira de madeira, pensativo, olhando fixamente para aquele ser do futuro. Então, ele disse algo para um de seus servos, em latim. Depois disso, colocaram um capuz em mim, de forma que não visse nada. Estava assustadíssimo, mas uma vez estava sendo levado para outro lugar que não sabia onde. Para piorar, me deram um remédio e em instantes estava dormindo.
          Acordei com um estrondo, estava claro que eles não eram nenhum pouco silenciosos quando em grupo. A luz dessa vez era diferente, era branca e muito reluzente. A sala era ampla, com sofás e móveis claros. Estantes recheadas de livros, escrivaninhas por todas as partes. Era arejada, muito diferente da saleta que estava antes. Era um apartamento confortável. com grandes janelas cobertas por cortinas alvas de seda.
Estava deitado em um dos sofás, me levantei o fui abrir uma das cortinas, mas fui violentamente impedido por um dos captiosus, que me fez cair sobre o tapete aveludado, que amorteceu a queda. Olhei espantado para ele, todos os outros que estavam na sala olharam para mim. Rebellem foi até esse ser que me empurrou, gritou com ele e por fim lhe deu um forte tapa no rosto. Me senti vingado, abri um sorriso. Então, com um português bem pobre, o mascarado começou a falar comigo, com sua voz abafada pela mascara.
          - Flávio, vos tá salvo aqui. Rarana irá te docer Latine, como te explica. ("Flávio, você está a salvo aqui. Rarana vai te ensinar latim, como te explicou", foi o que entendi.)
         Assenti com a cabeça. Depois, ele disse algo ao pé do ouvido da "mais humana" e saiu, junto de seus servos. Eu e Rarana nos olhávamos, ela estava pensativa e eu estava tentando desvendar o que ela pensava. Então, ela veio até mim.
          - Vamos começar suas aulas de latim. Por favor, não faça nenhuma pergunta que não seja referente aos estudos. Já disse tudo que podia pra você, até mais. - disse.
          - Tudo bem. - disse pra ela. - Vamos terminar com isso logo. Tenho que voltar para casa e para meu trabalho, meu chefe deve estar furioso!
          Então, ela refletiu o que eu disse, e eu na bobagem que acabara de dizer, e começamos a rir.
          Dentre aquele milhares de livros que havia na estante, Rarana pegou o primeiro da ponta, pois eles estavam organizados perfeitamente em ordem.
          - Pegue. - disse ela. - Abra-o e tenha o primeiro contato.
          Abri aquele grosso livro. Na verdade, já havia tido um contato com o latim na faculdade, na matéria de legislação. Mas ao ver tudo aquilo, notei que era muito mais leigo do que pensava. Então, minha professora de latim iniciou as intensas aulas.
          Depois de ter passado alguns dias e ter aprendido alguma coisa, ela começou a me mostrar vídeos de Maiori Lcobus, meu bisneto. Me espantei no começo com a nossa semelhança e me senti orgulhoso de ter um líder dessa proporção na família. Então, também comecei a aprender e treinar seus trejeitos.
           A partir daquele momento, notei que realmente minha vida jamais seria a mesma.
       


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